Na alta estação as praias são os pontos de prostituição infantil mais procurados devido sua proximidade com a rede hoteleira. O grande fluxo de turistas que além das belas praias, são atraídos pelo sexo fácil e barato de nossas crianças. A prática da prostituição infantil não se restringe apenas às noites, em plena luz do dia é possível constatar-se tal atividade.
Apesar de acentuada na capital, a exploração sexual de crianças e adolescentes ocorre freqüentemente nos municípios cearenses e nas rodovias onde a clientela é formada principalmente pelos próprios conterrâneos.
o preço pela inocência ...
Estas “profissionais do sexo” em sua grande maioria são órfãs de pais vivos. A grande chaga social do desemprego contribui grandemente para a adesão das crianças a esta pratica, já que seus pais, na grande maioria desempregados, não possuem nenhuma perspectiva concreta de sobrevivência, isto as leva a utilizar seus corpos, muitas vezes ainda nem totalmente formados, como meio para a obtenção de recursos ou até mesmo por um pedaço de pão.
Aliciadas por prostitutas mais velhas e “cafetões” estas crianças vítimas de uma infância perdida, cedo trocaram a escola pelas calçadas, bonecas por roupas sensuais, sonhos por prazer, expectativas por frustrações. O histórico familiar é o fator que desencadeia a iniciação destas crianças na vida de profissionais do sexo. E o que mais assusta é que, em alguns casos, são incentivadas por pais e mães que tornam suas crianças arrimos de família.
uma mistura de incerteza e solidão....
Dolores Silva Araújo, fortalezense, 31 anos, e R.S.A 13 anos, mãe e filha estigmatizadas pela exploração sexual. Na noite da última terça-feira 27 de Novembro ambas concederam uma entrevista exclusiva à nossa revista. Confira agora alguns dos trechos principais:
RE – Como a prostituição entrou na família de vocês?
Dolores – Hoje eu faço por que ganho dinheiro e por que gosto (risos) por que o “bixu” é bom viu. Olhe, o avô dessa daqui, o FDP do meu pai, não deixou nem criar peito em mim começou a me futricar. Quando minha mãe saia pra horta pra catar verdura e vender, ele vinha e mandava eu sentar no colo, me beijava e abraçava, mas não era como um pai, e eu sabia por causa do negócio duro que crescia debaixo de minha pernas. Era assim todo dia, bastava minha mãe sair e começava o inferno. O desgraçado só sossegou quando me comeu. (silêncio e lágrimas). Eu tinha de 14 pra 15 anos. Com 17 anos eu “embuxei” e minha mãe me expulsou de casa dizendo que eu queria tomar o maxu dela, ela disse que era eu que me oferecia pro meu pai, que eu tinha seduzido ele. Eu “buxuda” dessa daí, na rua, com fome... fui “trepar” pra garantir o de comer. E daí tudo começou.
RE – E como sua filha entrou nesse caminho?
Dolores – Eu pari, e criei com minha profissão. Como ela é ajeitadinha logo que começou a se enfeitar foi trabalhar também, né fia? Ela é desenrolada, já arruma um gringo e se dá bem na vida. Ele gosta e arrasta ela pra terra dele.
RE – E você “R” o que acha da vida que leva e quais seus planos pro futuro?
R – No começo é ruim, eu queria era brincar. Gostava de boneca, tinha uns 9 ano. Vim pra cá com minha mãe de noite e um cara tava me esperando com uma boneca linda, bombons de chocolates, e que me daria se eu... Aí eu fiz, minha mãe tinha dito o que era pra fazer. A gente se costuma hoje eu tenho minhas coisa, estudo de tarde e trabalho de noite. E vou casar com um gringo, os lascado daqui eu num quero não. Só vou se o cara for gringo! Minha hora vai chegar... eu dou o que eles querem e eles dão o que eu preciso.
RE- E quanto vocês ganham essa atividade?
Dolores – Eu tô ficando veia, mas ainda dá pra deslocar um legal, agora a R. aí arrasa. Como ela só pega gringo ela ganha de 30 a 60 depende do que o cara quer fazer. Mas quando a coisa ta braba a gente faz até por um prato de comida.
RE – Já sofreram violência?
Dolores – Oura se não, tem uns que gostam de bater, não querem pagar aí a gente parte pra cima... mas a gente tem como de defender tesoura, gilete. Quem entra nessa vida tem que ser desenrolada.
RE – E vocês pretendem sair dessa vida?
Dolores – Claro, vou ser madame... a R. vai se casar e se dar bem e vai tirar nóis dessa.
Brincadeira de criança, Esconde-esconde...??